O Troquinho Nosso de Cada Dia


Fala a verdade: A grande maioria bate os olhos nos artigos escritos aos jornais, vê que há muita coisa para ler e muda de página... ou estou errado? Acho que não.

Mas este artigo do Alfredo Leonardo Penz, publicado no jornal A Notícia de 19/08/2009, vale MUITO a pena ser lido. Ele escreveu o texto contando sobre o "Troco nosso de cada dia". Sabe aqueles centavos que são transformados em balas, pelas grandes redes de supermercados? Pois então...

Fazia tempo que eu não lia um artigo tão bacana, que me prendesse na leitura do início ao fim. Reservem um tempinho e, se não tiverem tempo agora, voltem depois pro Blog e leiam para ver se concordam com o Penz.

O troquinho nosso de cada dia

Com certeza, você já conhece esta cena: após passar por algum caixa e pagar suas compras, na falta do troco, lhe ofereceram balas em vez do troco propriamente dito. Não precisam nem responder.

Morei nos Estados Unidos por seis anos e sempre me retornaram o troco, independentemente do seu valor. Lá, se o seu troco for três centavos, você recebe três centavos. Se for um centavo, você recebe o seu rico um centavinho, chamado de penny. Jamais me ofereceram bala de troco, nem chicletes, tampouco caixas de fósforo. É uma questão de cultura: não importa quanto; dinheiro é dinheiro. Aqui no Brasil, ninguém reclama da falta do troco. Em países de primeiro mundo, o troco é sagrado.

Comecei então a fazer experiências: exigir o troco só para ver a reação das pessoas. Bastaram algumas tentativas para receber hilárias respostas. No caixa de um supermercado, minha conta foi de R$ 6,49. Dei R$ 6,50 e disse: “Quero ver se você vai ter o troco”. Ela respondeu: “Se o senhor quiser, chamo a assistente de caixa”. “Sim”, repliquei. A moça do caixa ao lado se virou e olhou pra mim. Tentei imaginar o que ela estava pensando: quem é este chato que está querendo R$ 0,01 de troco? Ela acendeu a luz. Em poucos instantes, chegou uma assistente de caixa e ficou sabendo que eu queria meu troco. Ela foi buscá-lo. Durante a espera, as duas caixas começaram a conversar comigo: “A próxima vez que eu vir o senhor, já vou acender a luz (risos)”. A outra retrucou: “Pior é que ele tem razão: nós deveríamos ter uns centavinhos na gaveta do caixa”. A assistente voltou; recebi, então, meu troco.

Na sequência, entrei em duas lojas de R$ 1,99 e comprei o mesmo produto: paçoquinhas de amendoim. Nestes dois testes houve respostas diferentes. Na primeira, a moça do caixa me perguntou se poderia ser uma balinha de troco; disse-lhe que não. A cliente que estava atrás de mim olhou com espanto. Ela me deu meu R$ 0,01. Percebi que ela também tinha um pote com balas, bem à mão, próximo ao caixa. Na segunda loja, foi diferente. Quando entreguei minha paçoquinha, a pergunta foi a mesma: “Pode ser uma bala?” Claro que eu disse não. Ela então disse que não tinha troco; retruquei que queria meu troco. Ela se rendeu e me deu R$ 0,05, porém antes me perguntou: “Você tem quatro centavos de troco?” E eu respondi: “Não”. Então ela disse que eu poderia ficar com aquela moedinha.

Numa lotérica, a moça do caixa disse que não tinha o meu troco: R$ 0,04. Falei-lhe que queria meu troco (estava rindo por dentro, porém queria ver a reação dela). Ela pediu para deixar para o próximo dia. Insisti que queria meu troco. Ela me devolveu R$ 0,05. Na semana seguinte, quando voltei à lotérica, havia um cartaz: “Favor confira o seu dinheiro no ato do troco. Não aceitamos reclamações”. Parece até piada, mas é a pura verdade.

Vamos fazer uma conta rápida: imagine que você passou no caixa de um supermercado e ele ficou devendo o seu troquinho: R$ 0,02. Multiplique por cem clientes em um dia. Agora multiplique por 30 “bocas de caixa”, por dia. Continue multiplicando por 30 dias. Finalmente, multiplique por dez lojas em todo o Estado. Total: R$ 18 mil. Você sabe quem paga aqueles brindes que são sorteados no final do ano? Nós, com o nosso rico troquinho, juntando cada centavinho que nós não exigimos; e são só dois centavinhos!

Outro dia, quando minha filha estava passando pelo caixa perguntaram a ela: “Posso ficar devendo R$ 0,10?” Ela respondeu com a mesma pergunta: “Posso eu ficar devendo R$ 0,10?” Disse-me que recebeu de troco R$ 0,25, com uma batida de mão no balcão e uma “cara feia”.

Para finalizar, um amigo gerente aposentado de várias agências bancárias em Joinville me disse que as moedas de R$ 0,01 não estão mais sendo produzidas pelo Banco Central. Pois é, meninos e meninas, aonde vamos parar? Eu só sei de uma coisa: faço questão do “troquinho nosso de cada dia”. Não quero mais balas.

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